O que o Futuro Reserva? A Ameaça de Dissolução e uma Perspectiva para Integração e Conciliação

 

Em meu Discurso Presidencial da PA de 2024, falei sobre as contribuições da parapsicologia para a ciência e o pensamento contemporâneo. Agora, vou me voltar para um tema diferente, mas conectado: o estado atual e o futuro de nosso campo, adotando um olhar mais crítico. Minha fala não se concentrará diretamente nas teorias de psi, ou em como melhor avaliar psi experimentalmente. Em vez disso, irei concentrar-me no panorama institucional mais amplo da parapsicologia, nos desafios atuais que dificultam o desenvolvimento do campo e nas direções que podemos seguir daqui por diante.

Todos sabemos que nosso campo ainda luta para ser amplamente aceito social e academicamente. Porém, embora frequentemente identifiquemos o ceticismo externo e a censura como nossos principais obstáculos, devemos reconhecer que fatores internos – como desafios institucionais e a falta de autocrítica e integração disciplinar – também minam o progresso do campo. Na ciência, como na vida, é muitas vezes mais fácil identificar e confrontar um inimigo comum do que reconhecer nossas próprias deficiências ou abraçar as novas possibilidades que surgem mediante a autorreflexão constante. Como presidente da Parapsychological Association, minha responsabilidade vai além de motivar e engajar nossos colegas; envolve também reconhecer onde estamos falhando e refletir sobre como realinhar o campo para promover um progresso mais construtivo e significativo.

Nesta apresentação, gostaria de discutir não os problemas que vêm de fora do campo, mas nosso papel na situação da parapsicologia e as atitudes e decisões que acredito que podem nos ajudar a avançar. Estas são algumas das grandes questões que gostaria de propor para nossa reflexão durante minha fala:

Qual é a identidade da parapsicologia como campo de pesquisa? Quais desafios internos ameaçam a coesão e legitimidade científica da parapsicologia hoje? Em que medida desacordos teóricos e metodológicos contribuem para a fragmentação do campo? Como a distribuição global e o enquadramento cultural da pesquisa parapsicológica afetaram seu desenvolvimento? O campo corre risco de dissolução, e o que isso poderia significar para seu legado histórico? Se a resposta for sim para a possibilidade de dissolução, como podemos incentivar a integração e a conciliação sem sacrificar o rigor científico?

Essas são todas questões muito complexas e interconectadas que, obviamente, não pretendo resolver completamente. Meu objetivo é propor caminhos possíveis e explorar as opções disponíveis. Mais importante ainda, quero enfatizar nossa capacidade de resolver muitos desses desafios se estivermos genuinamente engajados e motivados. Meu foco é no que podemos fazer agora, ao invés de simplesmente esperar por uma mudança de paradigma na ciência. Na verdade, como pretendo demonstrar, há inúmeros indícios de que temas parapsicológicos estão se tornando cada vez mais “mainstream” – ainda que essa mudança esteja ocorrendo em grande parte sem nossa participação ativa, reconhecimento ou vantagens claras para nossa comunidade. A questão então é: como podemos nos beneficiar desse crescente interesse por experiências anômalas na academia?

O Lugar da Parapsicologia na Ciência e na Sociedade

Antes de passar para uma discussão mais detalhada sobre essas questões e os desafios já mencionados, é importante revisar rapidamente a situação atual da parapsicologia em relação à ciência tradicional. Se focarmos apenas nas dimensões fenomenológicas e psicológicas das experiências anômalas e aquelas relacionadas à psi, o cenário se afigura geralmente positivo: as pesquisas nessas áreas estão crescendo e se fortalecendo. Vou falar mais sobre isso posteriormente. No entanto, a situação se torna mais complexa quando olhamos para o status ontológico de psi. Embora haja algum progresso perceptível nesse sentido – como também ilustrarei posteriormente na apresentação – ainda é um terreno controverso na ciência tradicional.

Parapsicólogos argumentam que experiências anômalas ou excepcionais, como impressões telepáticas, precognição e experiências fora do corpo, oferecem insights importantes sobre percepção, consciência e a própria natureza da realidade. Embora elas possam ser explicadas em termos de fatores psicológicos ou sociais, como vieses cognitivos, fraude ou transtornos mentais, há algo genuíno nesses relatos ou alegações que não pode ser totalmente reduzido a explicações “normais”.

Ao longo da história da parapsicologia, esforços significativos foram feitos para responder a críticas e preocupações metodológicas anteriores, às vezes em colaboração próxima com críticos e céticos. Embora muitos investigadores não tenham conseguido replicar resultados prévios, alguns colegas argumentam que a evidência acumulada ao longo dos anos, quando considerada criticamente, é consistente com um processo anômalo de transmissão de informação (definido popularmente como percepção extra-sensorial) ou troca de energia (ou seja, psicocinesia) que é independente, respectivamente, dos sistemas sensoriais ou de processos biológicos conhecidos.

Por mais de um século, as descobertas da pesquisa parapsicológica foram publicadas em diversas revistas científicas tradicionais – atraindo tanto o interesse quanto o desprezo e a crítica de cientistas mais mainstream. Vários pensadores eminentes, incluindo alguns ganhadores do Prêmio Nobel, levaram a sério a possibilidade dos fenômenos parapsicológicos e até mesmo contribuíram com as investigações científicas sobre o tema, entre eles Charles Richet (1850–1935), Henri Bergson (1859–1941), Pierre e Marie Curie (1867–1934), Wolfgang Pauli (1900–1958), e muitos outros. Nossa associação, uma das mais importantes instituições dedicadas ao estudo das experiências anômalas, é desde 1969 uma organização afiliada à American Association for the Advancement of Science (AAAS). Ainda assim, nenhuma dessas conquistas alterou significantemente o status da parapsicologia como uma ciência marginal. O campo enfrenta muitos problemas, como falta de financiamento, poucos departamentos acadêmicos, perspectivas de carreira pouco atrativas e a impossibilidade de estabelecer e manter estudos longitudinais e de grande escala. Ainda buscamos uma teoria integradora e orientadora capaz de explicar suficientemente nossos achados experimentais e direcionar pesquisas futuras, enquanto alguns críticos continuam reclamando da falta de resultados consistentes e convincentes em favor da existência de psi.

A percepção pública revela, geralmente, um alto grau de crença em fenômenos paranormais em diversos países. Pesquisas nos Estados Unidos (Wilkinson College, 2018), nos Países Baixos (Hoogeveen et al., 2024) e no Brasil (Monteiro de Barros et al., 2022) ilustram os percentuais significativos da população que declara acreditar em percepção extra-sensorial ou outros fenômenos psíquicos. Esse interesse generalizado é frequentemente sustentado pela cultura popular e por representações na mídia. Contudo, o público frequentemente confunde parapsicologia com práticas espirituais populares e qualquer alegação sobrenatural, como bruxaria ou o monstro do Lago Ness – um padrão reforçado intencionalmente pelos céticos militantes. Isso cria uma situação em que a definição formal da parapsicologia é frequentemente mal compreendida, mas os fenômenos que ela busca estudar são amplamente aceitos em níveis pessoais e coletivos. Essa desconexão ou paradoxo prejudica a capacidade do campo de conquistar a confiança do público ou de diferenciar-se de narrativas fantásticas, relatos fictícios ou puro charlatanismo, impactando tanto a percepção pública quanto o possível interesse acadêmico. O termo “parapsicologia” é frequentemente foco de muita controvérsia, e em muitos países provoca imediatamente reações negativas, geralmente associadas à noção de pseudociência.

Quais são as raízes e causas principais desses diversos problemas? Para abordá-los adequadamente, vou dividir a discussão nos seguintes tópicos ou desafios a serem enfrentados pelo campo:

  1. Problemas de definição e terminologia e a questão da sobreposição com outras disciplinas científicas;
  2. desacordos teóricos ou metodológicos dentro do campo;
  3. desenvolvimento insatisfatório da parapsicologia fora dos EUA e Europa; e
  4. desafios institucionais e a imagem pública da parapsicologia.

 

Questões de definição e sobreposição com outras disciplinas

Apesar de mais de um século de investigações, os problemas de definição ainda persistem, especialmente no que diz respeito ao escopo dos objetos de estudo da parapsicologia – seja focando estritamente nos fenômenos psi e na pesquisa sobre sobrevivência ou expandindo para incluir uma gama mais ampla de experiências anômalas.

Uma conclusão recente e surpreendente a que cheguei, durante nosso recente simpósio online sobre Parapsicologia Global, é que, fora dos EUA e da Europa, a parapsicologia evoluiu de maneira diferente, frequentemente adotando definições mais amplas ou distintas de fenômenos anômalos, refletindo diferentes quadros culturais. Ela pode incluir fenômenos ou tópicos que normalmente não são considerados no âmbito da parapsicologia nos países ocidentais, como, por exemplo, a interação próxima entre ufologia e parapsicologia na Costa Rica, a quase ausência de estudos sobre mediunidade na Espanha e o interesse de investigadores chineses nas práticas de qi gong. Alguns fenômenos podem não ser relatados ou não são investigados de todo, como a mediunidade de efeitos físicos na Índia. Isso levanta uma questão importante: Em que medida os fenômenos que estudamos são fenomenologicamente estáveis ao longo de diferentes culturas? Como diferentes tradições de pesquisa e contextos históricos e culturais influenciam a definição de psi e moldam o conjunto de temas considerados relevantes para a parapsicologia?

As definições e classificações dos fenômenos parapsicológicos comumente adotadas em nosso campo não são unicamente o resultado da identificação de um determinado grupo de fenômenos ou processos; antes, são moldadas em grau significativo por determinantes culturais e históricos. Apontam diretamente para as origens da parapsicologia no Espiritualismo moderno. Nossos temas de pesquisa podem todos ser rastreados a essas raízes espiritualistas. O estudo da psicocinesia, por exemplo, evoluiu de relatos de médiuns supostamente movendo objetos à distância, como Daniel Dunglas Home (1833–1886) ou a médium italiana Eusapia Palladino (1854–1918). Nesse contexto, podemos também considerar o conceito de percepção extra-sensorial como uma reinterpretação secular de fenômenos mentais que, tradicionalmente, eram observados no âmbito do Mesmerismo e do Espiritualismo. Em vez de atribuir essas experiências a causas espirituais, passaram a ser entendidas como manifestações de uma habilidade humana latente. Isso, porém, não se deu sem certa ambiguidade. Frederic Myers (1843–1901), que cunhou o termo telepatia, estava muito interessado nas implicações desses fenômenos para a sobrevivência após a morte do corpo físico, ilustrando como ocorrências psi inicialmente foram consideradas evidências de sobrevivência ou, ao menos, sugeriam a possibilidade de um aspecto extrafísico no ser humano – ideia defendida pelo próprio J. B. Rhine (1895–1980).

Mas, se os temas de pesquisa da parapsicologia evoluíram a partir do Espiritualismo, então parece não haver razão científica justificável para restringirmos nosso foco a esses fenômenos específicos, a menos que estejamos dispostos a conceder ao Espiritualismo um status privilegiado dentro do campo. Nesse caso, no entanto, a motivação seria mais ideológica do que propriamente científica. Essa constatação abre caminho para incluir muitas outras alegações e fenômenos no escopo da parapsicologia, como, por exemplo, UAPs (fenômenos aéreos não identificados) e várias formas de experiência mística. Porém, adotar tal expansão conceitual levaria a borrões nas fronteiras entre a parapsicologia e áreas vizinhas como estudos da consciência, pesquisa em espiritualidade, psicologia anomalística, ou a disciplina mais ampla chamada simplesmente “anomalística” (anomalistics) – todas as quais vêm ganhando espaço acadêmico nas últimas décadas. Isso, por sua vez, gera preocupações acerca de uma possível erosão da identidade da parapsicologia como disciplina autônoma e distinta. Alguns colegas podem sentir que essa expansão seria deletéria ao campo ou prejudicaria uma tradição histórica que precisa ser valorizada e reforçada. Não sou oposição a esses colegas e compreendo plenamente a importância da tradição. Mas também lamento perder oportunidades interessantes de diálogo e interação com outras disciplinas, oportunidades essas que podem ajudar a fortalecer o campo e maximizar o desenvolvimento da pesquisa. Deparamo-nos aqui com uma decisão difícil, que toca justamente a identidade da parapsicologia e nossos esforços de longa data para investigar fenômenos psi. A ampliação das áreas de estudo da parapsicologia arrisca diluir sua identidade?

O fato é que os fenômenos que investigamos não existem em uma bolha, mas interagem com diversas outras classes de experiências e uma gama de práticas e sistemas de crenças. Acadêmicos de variados campos podem oferecer diferentes nomes, significados ou explicações para experiências que são virtualmente idênticas em seus traços fenomenológicos. Experiências relacionadas a psi interessam não apenas a parapsicólogos, mas também a psicólogos da religião, cientistas da religião, cientistas sociais em geral, psiquiatras, físicos e filósofos. E, antes que alguém argumente que os interesses dessas áreas são fundamentalmente distintos dos da parapsicologia, vale ressaltar que muitos pesquisadores dessas áreas também estão profundamente engajados quanto às implicações ontológicas dos fenômenos psi – não apenas suas dimensões fenomenológicas, psicológicas ou sociais. Nesse contexto, as fronteiras entre parapsicologia e outras áreas podem se tornar bastante fluídas e maleáveis. Essas disciplinas frequentemente exploram questões similares àquelas abordadas na parapsicologia, mas o fazem de modos mais aceitáveis dentro das comunidades científicas e acadêmicas tradicionais. Até mesmo questões ontológicas – antes largamente marginalizadas – estão gradualmente recebendo certa atenção, com publicações em periódicos de alto impacto de diferentes áreas, como mostrarei adiante. Contudo, tal interesse renovado frequentemente acontece sem nenhuma referência explícita à parapsicologia, permitindo que indagações parecidas sejam investigadas sob outros rótulos – e às vezes com maior apoio institucional. Em meu discurso presidencial no ano passado, discuti esse desenvolvimento curioso: temas parapsicológicos estão cada vez mais entrando para o mainstream, mas instituições e pesquisadores da parapsicologia não colhem os frutos dessa mudança. Ao invés de reconhecer a parapsicologia como campo científico legítimo, a ciência tradicional parece absorver seus temas centrais enquanto os distancia de seu contexto original. Pesquisas sobre estados de consciência não ordinários e experiências espirituais estão em ascensão, impulsionadas, em grande medida, pelo interesse crescente em experiências com psicodélicos, experiências contemplativas/meditação e experiências de quase-morte. Temas antes restritos à comunidade parapsicológica – como experiências de final de vida, alucinações durante o luto e comunicação após a morte – começam agora a atrair atenção acadêmica mais ampla. Uma tendência notável, emergente de estudos recentes, é a tentativa de identificar padrões comuns em uma ampla variedade de experiências anômalas ou excepcionais. Pesquisadores têm cada vez mais examinado como fenômenos diversos – incluindo experiências psicodélicas, de quase-morte, meditativas, experiências psicóticas e despertares espirituais espontâneos – estão interconectados. Investigações atuais buscam não só suas semelhanças fenomenológicas como seus possíveis correlatos neurofisiológicos e cognitivos. Esses desenvolvimentos sugerem que o estudo de tais experiências poderá em breve evoluir para um novo campo interdisciplinar, agregando contribuições de estudiosos e áreas variadas. Embora a “psicologia anomalística” ou o domínio mais amplo das “anomalísticas” (anomalistics) pudesse, em teoria, cumprir esse papel, parece que a comunidade científica tradicional está caminhando em outra direção – marcada pelo uso crescente do termo “não ordinário” para caracterizar esses fenômenos. Essa mudança levanta uma questão crítica: tal campo emergente poderia eventualmente suplantar a parapsicologia, especialmente se também abordar – ainda que parcialmente – as dimensões ontológicas dessas experiências? Voltarei a esse ponto mais adiante.

Desacordos Teóricos ou Metodológicos

Ambiguidades de definição e fronteiras disciplinares fluidas representam desafios significativos para a identidade e o futuro de nosso campo. No entanto, um obstáculo ainda mais disruptivo reside nos desacordos teóricos e metodológicos que persistem dentro da própria parapsicologia.

Essas disputas internas – às vezes manifestando-se como conflitos pessoais e frequentemente acontecendo em fóruns ou grupos da internet – podem ser especialmente prejudiciais em um campo tão pequeno e especializado quanto o nosso, onde até tensões aparentemente menores podem escalar para problemas complexos e duradouros. Tais divisões frequentemente giram em torno de diferentes orientações teóricas, como perspectivas materialistas versus dualistas, modelos ontológicos versus psicológicos, ou pesquisas orientadas ao processo versus pesquisas orientadas à prova. Esses desacordos não são meramente abstratos ou filosóficos; eles têm consequências tangíveis para como as pesquisas são projetadas, interpretadas e recebidas dentro e fora do campo. Suposições conflitantes sobre a natureza de psi – se ela deve ser tratada como um fenômeno real e externo ou como uma experiência subjetiva e carregada de significado – podem levar a estruturas teóricas e metodológicas divergentes, às vezes difíceis de conciliar. Como resultado, torna-se cada vez mais desafiador desenvolver padrões compartilhados de evidência, replicar descobertas ou mesmo concordar sobre o que constitui uma questão de pesquisa legítima. Essa falta de consenso epistemológico enfraquece o crescimento acumulativo do conhecimento, criando um ambiente em que esforços isolados prevalecem sobre sínteses colaborativas.

Abordar essa fragmentação interna requer mais do que simplesmente apelos à tolerância ou diálogo interdisciplinar; demanda um esforço deliberado e contínuo para construir pontes que ultrapassem divisões teóricas e metodológicas. Isso pode envolver a criação de espaços seguros para debates estruturados, apoio a programas de pesquisa integrativos que transcendam dicotomias e o cultivo de uma cultura de humildade epistêmica – uma cultura que valorize a diversidade de pensamento sem cair no relativismo. Embora algum grau de discordância seja inevitável e saudável em qualquer campo científico, a parapsicologia precisa encontrar maneiras de canalizar essas tensões de maneira produtiva, em vez de permitir que se convertam em divisão. Só assim poderemos garantir um futuro robusto e intelectualmente vibrante para nossa disciplina e instituições.

A Parapsicologia para Além dos EUA e da Europa

Outro desafio fundamental a ser considerado é a expansão ou influência geográfica da parapsicologia. Atualmente, a Associação Parapsicológica possui aproximadamente 500 membros (Ventola, 2023). Quase 60% estão sediados nos Estados Unidos. Da última vez que Annalisa, nossa Diretora Executiva, conduziu uma análise das características dos membros, constatou que o maior percentual vinha dos países da Europa do Norte, América do Norte, Europa Ocidental, Austrália e Nova Zelândia. Seis por cento eram de países da Ásia Ocidental, Europa Oriental, Europa Meridional e América do Sul, e apenas 2% de outras regiões (Ventola, 2023). Esses números evidenciam o potencial ainda inexplorado para a expansão da PA em âmbito global. Apesar de mais de um século de investigações, o desenvolvimento da parapsicologia permanece fortemente concentrado nos Estados Unidos e Europa. Fora dessas regiões, o campo apresentou crescimento institucional comparativamente limitado, menor quantidade de centros de pesquisa e representatividade mínima em grandes redes  de colaboração acadêmica.

Esse desequilíbrio geográfico moldou não apenas a visibilidade da pesquisa parapsicológica em escala global, mas também os quadros teóricos e pressupostos metodológicos que dominam o campo. Como resultado, muitas experiências e interpretações culturalmente enraizadas de fenômenos anômalos continuam pouco exploradas ou mal integradas ao discurso parapsicológico dominante. Ironicamente, algumas das apresentações fenomenológicas mais ricas dos fenômenos parapsicológicos existem justamente em regiões onde a parapsicologia teve desenvolvimento institucional limitado. Ao longo da América Latina, África e Ásia, há uma grande diversidade de relatos envolvendo experiências psi espontâneas, mediunidade, reencarnação, possessão, curas, aparições e outros fenômenos anômalos. Essas experiências estão frequentemente ligadas a cosmologias locais, práticas religiosas e narrativas culturais, oferecendo não apenas estudos de caso interessantes, mas também oportunidades únicas para identificar indivíduos com habilidades psi especiais e variáveis contextuais que podem influenciar ou potencializar a manifestação desses fenômenos. Incorporar esses dados pode ajudar a diversificar o campo e potencialmente abrir caminhos para novas classificações ou perspectivas teóricas.

A prevalência transcultural desses fenômenos possui implicações importantes para debates em andamento sobre seu status ontológico e sobre o papel de fatores sociais, psicológicos e ambientais em sua manifestação. Quando padrões semelhantes de experiência surgem em contextos culturais amplamente divergentes, isso suscita a reflexão se certos fenômenos psi apontam para mecanismos universais transpessoais ou neurofisiológicos ou se estruturas socioculturais poderiam gerar efeitos comparáveis de forma independente (a chamada perspectiva construcionista). Em ambos os casos, abordagens comparativas e transculturais poderiam enriquecer enormemente a teoria parapsicológica e ajudar a responder questões antigas a respeito da universalidade, variabilidade e inserção contextual de psi e de experiências afins.

A expansão internacional da parapsicologia também possui potencial estratégico para revitalizar o campo. O aumento da participação de estudiosos e instituições de regiões sub-representadas poderia ampliar a base de membros das instituições parapsicológicas, estimular parcerias de pesquisa inovadoras e abrir caminhos para captação de recursos até então inexplorados. Esforços colaborativos entre pesquisadores ocidentais e não ocidentais poderiam favorecer maior diversidade epistemológica e ajudar a legitimar o campo tanto nos contextos acadêmicos locais quanto globais. Contudo, algumas limitações importantes precisam ser reconhecidas. Barreiras linguísticas continuam sendo um dos maiores obstáculos à integração global, frequentemente restringindo o acesso a publicações não traduzidas para o inglês e dificultando o diálogo entre pesquisadores de diferentes regiões. Diferenças culturais podem também conduzir a entendimentos divergentes sobre o que constitui parapsicologia, com algumas regiões incorporando quadros religiosos, espirituais ou metafísicos que nem sempre se alinham com a visão científica ocidental. Além disso, definições de conceitos-chave, como “anômalo”, podem variar consideravelmente, dificultando o estabelecimento de consensos em desenhos de pesquisa e interpretação teórica. Para avançar, o campo precisa priorizar práticas de pesquisa inclusivas, sensíveis à cultura e estratégias de comunicação multilíngue. Abraçar a diversidade de perspectivas globais pode ser uma força, não uma ameaça – revitalizando a parapsicologia cientificamente e institucionalmente, enquanto fomenta uma visão verdadeiramente internacional para seu futuro.

Desafios Institucionais e a Imagem Pública da Parapsicologia

Mas, além da expansão geográfica, um dos desafios mais persistentes e prejudiciais enfrentados pela parapsicologia atualmente é sua incapacidade de estabelecer uma imagem pública estável e confiável. Enquanto gerações anteriores de pesquisadores avançaram significativamente na legitimação do campo através de metodologias rigorosas e envolvimento acadêmico, muitos desses feitos foram sendo gradualmente corroídos. Alguns desses pioneiros e visionários já faleceram ou se aposentaram e o desafio de identificar e apoiar novas gerações de pesquisadores ainda persiste. O resultado disso tudo é uma identidade fragmentada: a parapsicologia continua a existir como empreendimento científico, mas carece da credibilidade pública desfrutada por disciplinas mais estabelecidas. Essa instabilidade reputacional mina a capacidade do campo de atrair novos talentos, garantir financiamento e manter uma presença contínua no discurso público e acadêmico mais amplo.

Paradoxalmente, avanços recentes no estudo das experiências anômalas de fato estão ocorrendo – mas frequentemente fora das fronteiras das instituições parapsicológicas. Áreas como ciência cognitiva, neurociências, estudos da consciência e até segmentos das ciências sociais e comportamentais exploram cada vez mais fenômenos tradicionalmente associados à parapsicologia. Questões ontológicas voltam cautelosamente ao cenário científico, como ilustrado por uma série de artigos em periódicos de destaque, como Cortex (Freedman et al., 2024) e Scientific Reports (Cohen et al., 2024). No entanto, esses desenvolvimentos frequentemente ocorrem sem referência aos trabalhos fundamentais da parapsicologia. Em alguns casos, parecem “reinventar a roda”, desconsiderando mais de um século de dados acumulados, quadros teóricos e avanços metodológicos.

Essa marginalização é talvez mais evidente em publicações de alto impacto que tratam tópicos relacionados a psi enquanto ignoram completamente a parapsicologia. Um exemplo recente é um artigo bastante discutido na Nature sobre experiências de quase-morte, que apresentou achados diretamente relevantes à parapsicologia, mas falhou em reconhecer sua literatura pré-existente (Martial et al., 2025). Tais omissões não apenas encobrem as contribuições históricas do campo, como também alimentam a percepção crescente de que esses fenômenos só passaram a ser levados a sério quando recontextualizados fora da parapsicologia. Como resultado, o interesse por psi e outras experiências anômalas aumenta – mas às custas do reconhecimento da parapsicologia como campo científico legítimo.

Essa dinâmica tem sérias consequências institucionais. À medida que a parapsicologia perde espaço na academia tradicional, as oportunidades de financiamento se tornam mais escassas, infraestruturas educacionais se deterioram e trajetórias de formação profissional se estreitam. Nesse ambiente precário, alguns colegas sentem-se compelidos a alinhar seu trabalho com temas mais “na moda” ou comercialmente viáveis – às vezes adotando narrativas populares ou New Age para aumentar a visibilidade e atrair apoio. Embora tais estratégias possam oferecer benefícios de curto prazo, elas correm o risco de reforçar a imagem externa do campo como ideologicamente enviesado, acrítico ou carente de rigor científico. Isso, por sua vez, perpetua o ciclo de marginalização e ceticismo público.

A imagem negativa da parapsicologia como pseudociência continua moldando sua recepção entre cientistas, educadores e formadores de opinião. Em certos círculos, o interesse por fenômenos anômalos ou paranormais não é apenas descartado como anticientífico, mas retratado como uma ameaça social – um suposto veículo de irracionalismo e obscurantismo. Psicólogos chegam a equiparar “crenças paranormais”, como a crença em psi, à irracionalidade das teorias da conspiração (Müller & Hartmann, 2023). Crenças relacionadas a psi vêm sendo classificadas por alguns especialistas como formas de “discurso pseudoprofundo sem sentido” (“pseudo-profound bullshit”), termo pejorativo que implica uma ligação entre tais crenças e déficits cognitivos (Pennycook et al., 2015). Termos como “weird shit” (French, 2024), “contaminated mindware” (Rizeq et al., 2021) e “afirmações sem fundamento” (Bensley et al., 2018) são frequentemente empregados para enquadrar o interesse por fenômenos psi como inerentemente irracional e falso. Um dos grandes desafios atualmente enfrentados pela parapsicologia é como dialogar com essas visões reducionistas, sobretudo nas áreas da psicologia e neurociência. Essas visões frequentemente desconsideram a diversidade dos sistemas de crença, os diferentes níveis de evidência empírica para alegações paranormais e as motivações complexas por trás do interesse em fenômenos anômalos. Em vez disso, tendem a tratar toda crença paranormal como homogênea e uniformemente problemática, agrupando tudo em uma descrição estereotipada. Para muitos desses críticos, a crença paranormal não é apenas vista como sinal de deficiência cognitiva, mas como ameaça ao pensamento crítico, à alfabetização científica e até aos valores democráticos – algo a ser combatido em vez de estudado de modo objetivo (Kurtz, 1996).

Essas narrativas não são apenas críticas abstratas; têm efeitos concretos sobre o apoio institucional, financiamento público, resultados de pesquisa e liberdade acadêmica. Também possuem implicações clínicas. Apoiar-se em rótulos que associam de modo acrítico experiências anômalas a déficits cognitivos perpetua equívocos e preconceitos, o que pode contribuir para desfechos negativos nos contextos clínicos. Tal terminologia pejorativa não é cientificamente válida nem clinicamente apropriada, pois deixa de capturar a complexidade dos processos psicológicos subjacentes a essas experiências e crenças. Em vez de oferecer explicações significativas, esses termos funcionam mais como argumentos ad hominem (Houran et al., 2025).

O que o futuro reserva?

Diante desses desafios, uma reavaliação se faz urgentemente necessária. A parapsicologia precisa não apenas fortalecer suas bases institucionais, mas também engajar-se de modo mais deliberado com a ciência tradicional – transpondo divisões epistemológicas, cultivando parcerias interdisciplinares e reafirmando suas contribuições históricas e intelectuais. Apesar dos muitos desafios, existem motivos para otimismo. O campo ainda possui instituições ativas. Organizações como a Parapsychological Association permanecem núcleos vitais de diálogo científico e construção de comunidade. Em vez de rebatizar ou renomear essas instituições em busca de legitimidade superficial, a prioridade deve ser fortalecê-las e modernizá-las internamente. Não acredito que mudar nosso nome altere significativamente a percepção pública; por outro lado, melhorias substanciais na estrutura e aumento da produção científica podem ampliar tanto a credibilidade quanto o impacto.

A parapsicologia deve não só fortalecer suas bases institucionais, mas também se engajar de modo mais deliberado com a ciência tradicional – superando divisões epistemológicas, cultivando parcerias interdisciplinares e reafirmando suas contribuições históricas e intelectuais.

Um passo fundamental nesse processo de modernização envolve melhorar a acessibilidade de nossas publicações. Tornar nossos periódicos mais abertos e disponíveis para pesquisadores de fora da comunidade parapsicológica, não apenas para membros, pode promover maior engajamento interdisciplinar e visibilidade. Animadoramente, mudanças recentes no Mindfield Bulletin da PA refletem essa crescente conscientização. Remover paywalls para certos artigos, adotar políticas de acesso aberto e aumentar a presença de nossos periódicos em bases de dados acadêmicas são passos concretos que podem promover a maior disseminação da pesquisa parapsicológica e facilitar o intercâmbio intelectual entre áreas disciplinares.

Ao mesmo tempo, a crescente influência do movimento de reforma da meta-ciência – focado em aumentar a transparência, reduzir práticas questionáveis de pesquisa (QRPs) e reforçar a reprodutibilidade – apresenta uma oportunidade para que parapsicólogos participem dos debates metodológicos contemporâneos. Acredito ser de suma importância reforçar nosso compromisso com iniciativas de ciência aberta (Nosek et al., 2015), incluindo o pré-registro de experimentos, hipóteses, planos de análise e outros elementos-chave do desenho de pesquisa. O movimento de reforma da meta-ciência, que está transformando a ciência empírica em várias áreas, apresenta tanto desafios quanto oportunidades para a parapsicologia. Se deixarmos de nos engajar com esses avanços metodológicos, corremos o risco de reforçar ainda mais o estereótipo da parapsicologia como um campo não científico ou não confiável. Historicamente, a parapsicologia mostrou forte capacidade de autocorreção metodológica, frequentemente introduzindo controles inovadores em resposta a críticas vindas da comunidade científica mais ampla (Cardeña, 2018), incluindo o uso de relatórios pré-registrados já nos anos 1970 (Wiseman et al., 2019). Não há razão para crer que procedimentos rigorosos e transparentes – quando aplicados de forma criteriosa – impeçam a manifestação de fenômenos psi genuínos. Embora psi permaneça elusiva – e haja evidências sugerindo que controles excessivamente estritos possam reduzir a chance de replicação – não podemos abrir mão dos princípios de transparência, reprodutibilidade e prestação de contas. Encorajo fortemente todos os colegas que conduzem pesquisa experimental em parapsicologia a adotarem métodos confirmatórios e de aumento de rigor alinhados aos princípios da ciência aberta. Muitos pesquisadores em nossa comunidade já estão liderando nesse sentido e esses esforços devem ser reconhecidos, apoiados e expandidos.

Por outro lado, é essencial também defender desenhos de pesquisa que respeitem os desafios únicos do estudo de fenômenos anômalos. Embora a reprodutibilidade seja importante, também o é a validade ecológica – a necessidade de métodos e cenários de pesquisa que capturem a complexidade e espontaneidade das experiências psi no mundo real. Graças à sua longa experiência, os parapsicólogos estão bem-posicionados para contribuir criticamente com discussões em andamento sobre a natureza das evidências científicas para psi e os limites das metodologias convencionais. Reconhecer o valor da diversidade metodológica também é vital. Um artigo recente publicado na PNAS Nexus (Krauss, 2024) revisou uma série de descobertas científicas importantes, incluindo prêmios Nobel e constatou que a experimentação desempenhou papel relevante nessas diferentes descobertas. No entanto, observações sistemáticas e o desenvolvimento de instrumentos sofisticados obtiveram percentuais ainda mais altos. Esses resultados destacam a importância da diversidade metodológica na ciência. Experimentos quantitativos oferecem controle e rigor estatístico, enquanto abordagens qualitativas proporcionam descrições ricas e insights sobre o significado subjetivo. Combinar esses métodos pode gerar uma compreensão mais abrangente dos fenômenos anômalos. A pesquisa de métodos mistos pode ajudar a aproximar a profundidade fenomenológica da generalizabilidade empírica, oferecendo benefícios teóricos e práticos. Estudos de casos espontâneos, métodos observacionais e pesquisa do tipo survey: cada um desses métodos tem sua importância. Não podemos esquecer que nossos métodos experimentais são apenas aproximações da “coisa real”. As experiências das pessoas não são apenas “anedotas”… Elas formam a base sobre a qual tudo no campo da parapsicologia é possível. Em minha opinião, ao examinarmos as evidências para psi, devemos considerar todas elas, não apenas as experimentais.

Igualmente importante é dialogar com o público mais amplo por meio de podcasts, entrevistas, vídeos educativos e outras formas de comunicação científica. Iniciativas como The Telepathy Tapes servem como ótimos exemplos de como temas parapsicológicos podem despertar curiosidade e gerar debates para além dos círculos acadêmicos. O engajamento público não deve se limitar apenas à defesa do campo, mas torná-lo relevante e acessível para a vida das pessoas. Apesar das críticas ao The Telepathy Tapes, o projeto sem dúvida ilustra a importância do compromisso com a comunicação pública, especialmente em uma era digital como a nossa, marcada pelo avanço da inteligência artificial e outras tecnologias. Como fortalecer nossos vínculos e relações com diversos atores sociais, incluindo líderes religiosos, praticantes espirituais, jornalistas, artistas, profissionais das redes sociais e comunidades de experienciadores, em vez de nos limitarmos à academia? Nesse contexto, é fundamental compartilhar as descobertas da parapsicologia de forma responsável e considerando todas as explicações possíveis.

Retornando ao tema da identidade da parapsicologia como campo e ao risco de dissolução, há diferentes soluções que podemos discutir. Uma alternativa é o que chamo de abordagem de polinização cruzada. Essa perspectiva envolve, entre várias possibilidades, uma divisão em muitos subcampos do que consideramos hoje uma área única e identificável de pesquisa. Isso provavelmente traria mudanças substanciais na forma como a ciência é feita em diferentes laboratórios e universidades ao redor do mundo, incluindo o desenvolvimento de uma nova mentalidade, mais aberta a ideias disruptivas, paradoxais e heterodoxas. Isso me parece o cenário mais desafiador, mas também um dos mais interessantes, pois poderia transformar a parapsicologia (ou a maneira como investigamos e pensamos fenômenos psi) em uma parte essencial do empreendimento científico em qualquer disciplina e na sociedade em geral. Em um cenário mais pessimista, no entanto, essa abordagem poderia representar o início do fim da parapsicologia como conhecemos, fragmentando o campo e jogando fora conquistas de pesquisa acumuladas no “lixo” das diferentes disciplinas científicas. Portanto, devemos ter cuidado com o modo como isso seria conduzido.

Da minha parte, defendo um caminho intermediário no qual mantemos nossa autonomia ao mesmo tempo que encorajamos a discussão de temas mais disruptivos em outros campos científicos. A chamada ciência disruptiva parece estar em declínio (Kozlov, 2023). Já não temos a mesma intensidade de descobertas revolucionárias que tivemos no passado. Talvez parapsicólogos possam contribuir para o estabelecimento de um novo movimento científico, similar à iniciativa de ciência aberta, mas focado em fomentar maior aceitação e menos discriminação para temas disruptivos ou controversos na ciência, incluindo a investigação ontológica de experiências não ordinárias.

Por fim, nenhuma dessas iniciativas terá sucesso sem uma mudança na cultura do próprio campo. Progressos são muitas vezes dificultados por rivalidades pessoais, agendas voltadas para o ego e foco em reconhecimento individual, em detrimento do avanço coletivo. Para construir um futuro sustentável e próspero para a parapsicologia, precisamos priorizar a colaboração e objetivos compartilhados em vez da competição. Trabalhar juntos para cultivar o tipo de cultura científica e infraestrutura institucional a que aspiramos trará benefício a todos – individual e coletivamente.

Referências

Bensley, D. A., Lilienfeld, S. O., Rowan, K. A., Masciocchi, C. M., & Grain, F. (2020). The generality of belief in unsubstantiated claims. Applied Cognitive Psychology, 34(1), 16–28. https://doi.org/10.1002/acp.3581

Cardeña E. (2018). The experimental evidence for parapsychological phenomena: A review. The American Psychologist73(5), 663–677. https://doi.org/10.1037/amp0000236

Cohen, L., Delorme, A., Cusimano, A., Chakraborty, S., Nguyen, P., Deng, D., Iqbal, S., Nelson, M., Wei, D., Fields, C., & Yang, P. (2024). Examining the effects of biofield therapy through simultaneous assessment of electrophysiological and cellular outcomes. Scientific Reports, 14, Article 29221. https://doi.org/10.1038/s41598-024-79617-3

Freedman, M., Binns, M. A., Meltzer, J. A., Hashimi, R., & Chen, R. (2024). Enhanced mind-matter interactions following rTMS induced frontal lobe inhibition. Cortex, 172, 222–233. https://doi.org/10.1016/j.cortex.2023.10.016

French, C. (2024). The science of weird shit: Why our minds conjure the paranormal. MIT Press.

Hoogeveen, S., Borsboom, D., Kucharský, Š., Marsman, M., Molenaar, D., de Ron, J., Sekulovski, N., Visser, I., van Elk, M., & Wagenmakers, E.-J. (2024). Prevalence, patterns and predictors of paranormal beliefs in the Netherlands: A several-analysts approach. Royal Society Open Science, 11(2), Article 240049. https://doi.org/10.1098/rsos.240049

Houran, J., de Oliveira Maraldi, E., Massullo, B., & Molnar, D. (2025). Evaluating anomalous experiences with respect and responsibility: A critical reflection. Spirituality in Clinical Practice. Advance online publication. https://doi.org/10.1037/scp0000398

Kozlov M. (2023). ‘Disruptive’ science has declined – and no one knows why. Nature613(7943), 225. https://doi.org/10.1038/d41586-022-04577-5

Krauss A. (2024). Redefining the scientific method: as the use of sophisticated scientific methods that extend our mind. PNAS Nexus3(4), 112. https://doi.org/10.1093/pnasnexus/pgae112

Kurtz, P. (1996). Two sources of unreason in democratic society: The paranormal and religion. Annals of the New York Academy of Sciences, 775, 493–504. https://doi.org/10.1111/j.1749-6632.1996.tb23166.x

Martial, C., Fritz, P., Gosseries, O., Bonhomme, V., Kondziella, D., Nelson, K., & Lejeune, N. (2025). A neuroscientific model of near-death experiences. Nature Reviews Neurology21(6), 297–311. https://doi.org/10.1038/s41582-025-01072-z

Monteiro de Barros, M. C., Leão, F. C., Vallada Filho, H., Lucchetti, G., Moreira-Almeida, A., & Prieto Peres, M. F. (2022). Prevalence of spiritual and religious experiences in the general population: A Brazilian nationwide study. Transcultural Psychiatry, 13634615221088701. Advance online publication. https://doi.org/10.1177/13634615221088701

Müller, P., & Hartmann, M. (2023). Linking paranormal and conspiracy beliefs to illusory pattern perception through signal detection theory. Scientific Reports, 13, 9739. https://doi.org/10.1038/s41598-023-36230-0

Nosek, B. A., Alter, G., Banks, G. C., Borsboom, D., Bowman, S. D., Breckler, S. J., Buck, S., Chambers, C. D., Chin, G., Christensen, G., Contestabile, M., Dafoe, A., Eich, E., Freese, J., Glennerster, R., Goroff, D., Green, D. P., Hesse, B., Humphreys, M., . . . Yarkoni, T. (2015). Promoting an open research culture: Author guidelines for journals could help to promote transparency, openness, and reproducibility. Science, 348(6242), 1422–1425. https://doi.org/10.1126/science.aab2374

Pennycook, G., Cheyne, J. A., Barr, N., Koehler, D. J., & Fugelsang, J. A. (2015). On the reception and detection of pseudo-profound bullshit. Judgment and Decision Making, 10(6), 549–563.  https://doi.org/10.1017/S1930297500006999

Rizeq, J., Flora, D. B., & Toplak, M. E. (2021). An examination of the underlying dimensional structure of three domains of contaminated mindware: Paranormal beliefs, conspiracy beliefs, and anti-science attitudes. Thinking & Reasoning, 27(2), 187–211. https://doi.org/10.1080/13546783.2020.1759688

Ventola, A. (2023). From the executive director. Mindfield: The Bulletin of the Parapsychological Association, 15(3), 12-14.

Wiseman, R., Watt, C., & Kornbrot, D. (2019). Registered reports: An early example and analysis. PeerJ7, Article e6232. https://doi.org/10.7717/peerj.6232

Wilkinson College. (2018, October 16). Paranormal America 2018 — Chapman University survey of American fears. The Voice of Wilkinson, Chapman Universityhttps://blogs.chapman.edu/wilkinson/2018/10/16/paranormal-america-2018/ 

The Sacred on the Couch: Why Psychodynamics Is Essential to Understanding Spirituality in Psychology

Mental health is a vast field, where the complexity of human experience manifests in all its depth. Within it, the dimensions of religiosity and spirituality (R/S) can play an undeniable role, influencing behaviors, beliefs, and the very way we deal with conflicts and suffering (Cafezeiro, 2023). Despite their importance, due to historical and circumstantial factors, psychology training has often neglected the study and discussion of this area.

Nevertheless, it is undeniable that the psychodynamic approach stands out for its pioneering role in exploring the field, emerging as an indispensable perspective for understanding R/S elements. Historically, the relevance of these dimensions for understanding the human mind was recognized by psychology’s pioneers, especially those who laid the foundations of psychodynamic approaches, which were dominant at the time. Since the earliest studies of research on R/S, these theories have contributed to the understanding of phenomena related to religiosity and spirituality, exploring the unconscious dynamics and deep mental processes that sustain them (Corveleyn, Luyten, & Dezutter, 2013). While other branches of psychology tend to focus on more observable and cognitive aspects of R/S, psychodynamics invites us to dive into the deeper and unconscious layers of the psyche (Rizzuto & Shafranske, 2013). But what is the relevance of this perspective for the training of future psychologists and for understanding human experience.

Dealing with Religiosity and Spirituality: A Link between Culture and Psyche

Religious/spiritual beliefs and practices are structuring components of individual dynamics. They function as frameworks through which we interpret reality, influence our mental health – being associated, for example, with lower levels of anxiety and depression – and can serve as valuable resources in coping with illnesses and adhering to treatments (Cafezeiro, 2023). In this sense, scientific literature has widely demonstrated the impact of R/S on health and well-being.

However, although they are relevant for mental health and many patients wish to address these topics in their treatments, professionals often feel unprepared to do so. This gap fosters a “vicious cycle,” where the lack of training prevents the discussion and ethical inclusion of R/S in clinical practice (Raddatz, Motta, & Alminhana, 2019). This is where the psychodynamic approach stands out.

Uncovering Unconscious Layers: A New Era in Psychodynamic Research

A recent systematic review sought to investigate how the psychodynamic approach understands and addresses religious/spiritual experience from a clinical perspective, and what the relevance of such studies is for psychology training (Cafezeiro, 2023). The analysis encompassed 25 scientific works published between 1998 and 2022, predominantly in the United States, but with significant contributions from European countries (Cafezeiro, 2023).

One notable finding is that, although case studies predominate methodologically—considered weaker in terms of scientific evidence – there is a continuous advancement in methodological sophistication, with an increasing inclination toward the use of multiple theories, both psychodynamic and from other areas of psychology. This trend indicates a search for more integrative and complementary approaches (Cafezeiro, 2023) and brings psychodynamics back as scientific knowledge to be respected.

It was also found that the psychodynamic view of R/S has undergone transformations. Initially influenced by Freud’s negative perspective (which viewed religion as illusion or regression), it expanded to recognize the healthy and functional aspects of religious/spiritual experience (Cafezeiro, 2023). This evolution is reflected in the various psychodynamic theories addressing the theme, each with its own specificity (Cafezeiro, 2023):

  • Drive Psychology: Considering Freud’s classical psychoanalytic approach, it suggests that unconscious desires and intrapsychic conflicts may be expressed through religion. From this perspective, religiosity/spirituality may be seen as regressive and conflict-inducing expressions of the psyche (Rizzuto & Shafranske, 2013).
  • Ego Psychology: This branch highlights the ego’s defenses in mediating between unconscious impulses and reality demands. Research in this field addresses aspects of identity formation and stages of religious development (Corveleyn, Luyten, & Dezutter, 2013). Studies have evaluated individuals’ adaptive capacity in different contexts (Hall et al., 2006).
  • Object Relations Psychology: A prominent approach in studies, it focuses on mental representations of self and others, and how they shape the perception of divinity. The image of God, for example, may form based on significant parental figures (Corveleyn, Luyten, & Dezutter, 2013). Concepts such as “attachment to God” are explored, where a secure attachment with the divine fosters a positive self-image and better stress management (Gurney & Rogers, 2007). This approach also examines how relational patterns manifest in spiritual life.
  • Self Psychology: This approach emphasizes the importance of the empathic relational environment in therapy, where interpretation seeks to integrate new experiences beyond rationality (Jones, 2010). Jung’s process of individuation is understood as the integration of unconscious contents, leading to maturity and personality expansion. In this sense, the religious space may act as a “therapeutic field” that facilitates psychic elaboration (Cafezeiro, 2023).
  • Relational Psychoanalysis: Emphasizes the impact of the sociocultural context on psychological motivations, including gender, ethnicity, religion, and social class (Tummala-Narra, 2022). For this approach, cultural competence is central in psychoanalytic practice, and spirituality is viewed as an inherent reality of the intrapsychic life of therapists and patients, where the transcendent may be considered an “analytic third” (Tummala-Narra, 2022).

Relevance to Psychology Training

The main contribution of the psychodynamic approach lies in its ability to access the “deep core” of the person, that is, the unconscious dynamics that shape religious/spiritual experience (Cafezeiro, 2023). In contrast with approaches that may limit themselves to conscious beliefs, psychodynamics seeks the meaning that the patient attributes to these experiences, without judging their truth (Shafranske, 2009).

The literature highlights that clinical management of R/S, although requiring sensitivity, demands that the psychodynamic therapist be attentive to transference and countertransference, understanding how the sacred manifests in the therapeutic relationship and how their own beliefs may influence the process. The use of the clinical case, although sometimes criticized for its “low level of evidence” in an Evidence-Based Practice context, is defended by psychodynamics as a fundamental tool for capturing the uniqueness and depth of human experience (Richards, 2010).

By integrating this perspective into training, future psychologists can:

  1. Understand the complexity of R/S: Go beyond the superficiality of beliefs, exploring how these phenomena are rooted in the unconscious and influence mental health (Cafezeiro, 2023).
  2. Develop more sensitive clinical listening: Recognize and welcome patients’ religious/spiritual manifestations without prejudice, using them as entry points to the inner world (Cafezeiro, 2023).
  3. Address anomalous experiences: Literature indicates that the psychodynamic approach has unique tools to explore the clinical management of anomalous experiences, differentiating them from psychopathologies (Lomax, Kripal, & Pargament, 2011).
  4. Promote culturally competent practice: Relational psychoanalysis, for example, emphasizes the importance of considering the impact of the sociocultural context on patients’ subjectivity, a crucial aspect in contemporary psychology (Tummala-Narra, 2022).

In sum, the psychodynamic approach to religiosity/spirituality presents itself as an irreplaceable pillar for a comprehensive and critical psychology training (Cafezeiro, 2023). It invites a broader vision of the human being, where the sacred, the psychological, and the cultural intertwine in profound and meaningful ways. Recovering this place for the hermeneutic sciences in psychology is not only a historical rescue, but an imperative for clinical practice in the 21st century.

References

  1. CAFEZEIRO, A. S. Contribuições da abordagem psicodinâmica ao ensino da religiosidade/espiritualidade na formação em psicologia. 2023. 133 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem e Saúde) – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Jequié, 2023.
  2. CORVELEYN, J.; LUYTEN, P.; DEZUTTER, J. Psychodynamic psychologies and religion. In: PALOUTZIAN, R. F.; PARK, C. L. (Ed.). Handbook of the psychology of religion and spirituality. Guilford Publications, 2013. p. 80-100.
  3. GURNEY, A. G.; ROGERS, S. A. Object-relations and spirituality: Revisiting a clinical dialogue. Journal of Clinical Psychology, v. 63, n. 10, p. 961-977, 2007.
  4. HALL, M. E. L.; EDWARDS, K. J.; HALL, T. W. The role of spiritual and psychological development in the cross-cultural adjustment of missionaries. Mental Health, Religion & Culture, v. 9, n. 2, p. 193-208, 2006.
  5. JONES, J. W. Mudança Psicoterapêutica e Transformação Espiritual: O Efeito Interação. Pragmatic Case Studies in Psychotherapy, v. 6, n. 2, p. 109-117, 2010.
  6. LOMAX, J. W.; KRIPAL, J. J.; PARGAMENT, K. I. Perspectives on “sacred moments” in psychotherapy. American Journal of Psychiatry, v. 168, n. 1, p. 12-18, 2011.
  7. RADDATZ, J. S.; MOTTA, R. F.; ALMINHANA, L. O. Religiosidade/espiritualidade na prática clínica: círculo vicioso entre demanda e ausência de treinamento. Psico-USF, v. 24, p. 699-709, 2019.
  8. RICHARDS, P. S. The Role of Religion and Spirituality in Olav’s Treatment and Recovery: Commentary on an Exemplary Case Report. Pragmatic Case Studies in Psychotherapy, v. 6, n. 2, p. 101-108, 2010.
  9. RIZZUTO, A. M.; SHAFRANSKE, E. P. Addressing religion and spirituality in treatment from a psychodynamic perspective. In: PARGAMENT, K. I.; MAHONEY, A.; SHAFRANSKE, E. P. (Orgs.). APA handbook of psychology, religion, and spirituality. v. 2. American Psychological Association, 2013. p. 125–146.
  10. SHAFRANSKE, E. P. Spiritually oriented psychodynamic psychotherapy. Journal of Clinical Psychology, v. 65, n. 2, p. 147–157, 2009.
  11. TUMMALA-NARRA, P. Hindu spirituality and psychoanalytic psychotherapy. In: SANDAGE, S. J.; STRAWN, B. D. (Eds.). Spiritual diversity in psychotherapy: Engaging the sacred in clinical practice. Washington, DC: American Psychological Association, 2022. p. 19–46.